TEXTO: O ABSURDO DO ESTUPRO CULPOSO - MACHISMO E DESUMANIDADE

 

O ABSURDO DO ESTUPRO NÃO CULPOSO – MACHISMO E DESUMANIDADE EM VOGA

De tempos em tempos, surge uma nova notícia que abala o cotidiano, na maior parte dos casos, notícias ruins, dentro de um cenário assustador abarcado nesse mundo caótico.  A banalidade agora é o tal estupro culposo! Repugnante, assombroso, monstruoso - a extrema manifestação dos mais horrendos escrúpulos da famigerada espécie humana. Um espetáculo de horrores orquestrado por indivíduos autoritários e machistas, soberbos e indiferentes a dor alheia, ao sofrimento de uma mulher. A disseminação deste assunto toma espaço na mídia e muitas reações surgem, seja quanto a questão do estupro ou quanto ao julgamento do fato. Vou me deter aqui a posição de condenação total ao ato do estupro e a forma como as ditas autoridades conduziram e conduzem o caso, pois, a minha consciência não aceita o contrário, e entendo que para aqueles que ainda insistem em encontrar uma justificativa que justifique ou amenize o ocorrido, devem, urgentemente, fazer um exame de sanidade mental e diagnosticar se de fato compreendem o que é ser humano na essência! Se perdemos a sensibilidade para as inúmeras tragédias que nos rodeiam, estaremos dando passos cada vez maiores ao abismo da barbárie absoluta.

Observo em tudo isso, uma justiça estática, cujas ações variam de pessoa para pessoa, ou seja, as condições sociais, econômicas, o status, o grau de influência, a questão de gênero, a própria sexualidade, serão pesadas, nos corrompidos tribunais, arraigados dentro de um machismo estrutural que concede privilégios aos homens e lesiona os direitos da mulher.

Para quem acompanha timidamente os noticiários e estatísticas de violência, percebe que, além da violência do racismo estrutural, são inúmeros os casos de violência contra a mulher, consumados das formas mais variadas possíveis -  ocorre uma institucionalização e banalização que fragiliza as mulheres em sua dignidade.

O machismo está profundamente arraigado no comportamento de homens e mulheres em nosso país. Não bastasse ser um padrão estrutural da sociedade capitalista, no Brasil é ultrajado por fatores sociais que remontam a época da colônia. É a cultura machista que permite todo tipo de abusos e assédios e que passam, muitas vezes, por comportamentos naturalizados. As faces da violência contra a mulher parecem ser aos olhos de muitos algo sútil e irrelevante, o olhar e a postura da indiferença, desumanizam e alimentam esse flagelo.

Numa sociedade fundada na plenitude do homem, a condição da mulher passa a ser de insegurança. A legitimidade das instituições parecem querer favorecer ao homem agressor as áureas da proteção e da absolvição perante seus mais sórdidos atos de atentado contra a mulher. Na verdade, até existem leis para amparar e proteger a mulher da violência, mas, em termos práticos, a eficácia está longe de ser alcançada, há uma maquiagem que visa acobertar e amenizar casos de violência contra a mulher, inclusive de estupro! Isso é inaceitável.

Uma mulher estuprada sofre uma dor que ultrapassa qualquer dor física, pois seu ser é inferiorizado à uma total condição de insignificância, ao abatimento psicológico e existencial.

Ausentes de uma mudança imediata dos comportamentos machistas de todo tipo estaremos exercendo o cinismo típico da sociedade em que vivemos.

O estupro é um ato grave e deve ser punido, ou, por consequência, estaremos fomentando o agravamento da barbárie.

Não podemos aceitar o abuso de poder e os desvios comportamentais decorrentes do machismo, como justificativas para atos cruéis como o caso do estupro. É inadmissível sustentar a lógica da perversidade   onde o homem é considerado como aquele que tem valor, e por isso tudo pode!

É preciso denunciar, combater, não se calar perante essa catástrofe desumana do estupro. Além de abordar esse tema como fato indesejável, porém, concreto, de uma sociedade em colapso moral e ético, inclinada a favorecer o homem como sujeito soberano, quando na verdade, está se construindo um elemento destruidor que alveja e destrói vidas. 

Apesar de sermos partes de um país onde o acesso à justiça e desigualdades de gênero, raça e classe tornam bastante difícil a resolução de conflitos por meio do judiciário, precisamos acreditar e lutar por justiça, caso contrário, o silêncio e o não barulho, serão partes de um quadro onde o estuprador estará sorrindo, assim, tranquilamente para qualquer mulher, qualquer pessoa. PENSAE!